terça-feira, 3 de novembro de 2015

Circo Social

A essência anda disfarçada de banal.
Só se vê a luz quando está escuro,
Só se vê quem limpa quando está sujo,
Só sentimos o monstro quando está tudo vazio. 
A tinta só pinta um grande monótono.
A falta de fluxo pelo controle remoto.

Nem um átomo de fé te faria completo.
Se força um riso amarelo com tal besteira.
Usando o superficial para atingir e não cair,
Fez do belo tamanho absurdo.
Não se enxerga o que está surgindo.

A decadência gera hipocrisia,
A hipocrisia alimenta a moda,
A moda cria a depressão,
O que não falta é quem tenha razão.

No mesmo circuito os olhos caminham parados,
A mente funcionando por mecanismo programado,
O mundo girando por embalo, por abalos.
Sempre reto, sempre o círculo, sempre o ciclo do quadrado.

Nada mais importa quando seu ego infla.
A loucura é que deveria ser ouvida,
Mas final das contas o certo é sempre impossível,
É o que não se pode,
É o que não se consegue fazer.

(GB - 17)

Sol

Os olhos que guiam meus pés,
As mãos que guiam minha pele,
Os dedos que me levam pra dançar,
A certeza que traz a segurança da realidade.

Aqui ou do outro lado há um sol
Que aquece meu mundo
Secando minha casa afundada por um rio.
Balança as decisões e coloca tudo no lugar.

A voz que me traz de volta, 
Um encontro que faz acontecer
No fogo que faz aquecer, 
Que penetra a pele.

Faz eu me sentir em casa,
O ninho onde posso pousar.
O improviso que guia o futuro,
O sorriso onde quero estar.

É de quem posso pegar meu brilho
Para a noite iluminar
E imaginar
Nosso encontro em outro lugar.

(GB - 17)

Lágrima

Como mancha vem marcando a pele... 
O sal. 
Em brilho, espalha o cinza. 
Insegura se balança tentando voltar de onde veio, 
Mas tímida cai e se deita sobre os poros 
Procurando não ser vista. 

Desmascara ou conquista, 
Nunca sabe como será recebida: 
Se entre dentes ou soluços. 

Sabe que se cair, 
Acaba puxando a corda e então 
Outras cairão da ponte 
Tentando segui-la em direção ao mar. 

Exploram o mar, 
Procuram um lugar para se agarrarem 
E depois flutuarem.

(GB - 17)

Vassouras e Olhares

ônibus para, sol forte no céu. Ao lado direito, de frente pra janela do assento, um varredor de rua com sua roupa laranjada e pesada grudando em seu corpo suado.

Com seu olhar enrugado, indiferente e distraído, demonstra estar acostumado com a rotina, acostumado com sua inexistência enquanto as pessoas passeiam pelo parque que é limpo por ele. O que ele não sabe é que seu olhar carrega tanta poesia, poesias tão tristes quanto sua vassoura fazendo melodia pelo chão enquanto levanta a grama cortada.

Cheiros e rostos, gramas e sois. Horas e horas, dias e dias... Até que ele percebe um olhar sobre ele, coração acelera e de vagar levanta seu rosto para retribuir o olhar ainda com certo medo e hesitação. Mas o ônibus anda e ele não conseguiu ver quem o olhava... Novamente é apenas ele e ele. Ele e sua vassoura musical.

(GB - 17)