terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Passarela Cinzenta

Em um dia frio com cheiro de cinzas, uma mulher riu-se no encontro com o trem.

Na neblina invernal com cheiro de manhã, um resquício de modelo se desequilibrou encontrando o trem.

No trilho frio, ferrugem de morte, o trem riu-se de encontro às cinzas.

No trem invernal com cheiro de cinzas, a neblina encontrou com o resquício da modelo.

Em uma manhã de neblina com cheiro de inverno, a morte equilibrou-se no encontro com o trilho.

Em uma manhã cinza com cheiro de morte, ela andou de encontro ao trem.

A manhã cinza condizia com o cheiro de morte daquele dia invernal, infernal. Acabava de amanhecer,  neblina, um resquício, um rastro de lua no céu. E lá ia ela se equilibrando, andando pelo trilho enferrujado: uma modelo na passarela. Rindo-se à toa. Nunca pensou que ela poderia se tornar modelo como essas da televisão. Se desequilibrou no exato local onde o trilho virava uma ponte. A visão, turva como a neblina. A última coisa que conseguiu distinguir foi o trem...e o resquício da lua no céu.

(GB - 16)