segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Corpo

É santuário
É casa
É abrigo
É janela de expressão da alma

Na latência, é fluxo
Na pele, é calma
Na inspiração, é recepção 
Das sensações do mundo
Na expiração, é fonte
De calor e expressão

Não é padrão
Não é prisão
É movimento

(GB - 19)

Tropeço

Tempo 
Segure meu tornozelo com sua corda bamba
Balance
Balance
E me jogue de volta para trás.

Só queria sentir o sol penetrar mais uma vez
Só queria cuidar dos poros
Do meu abrigo,
Minha embriaguez.

Vento me ajude 
A não ficar à deriva na liquidez desses dias,
Me falta o ar. 
Sou aprendiz e peço à fluidez do instante
Que me leve
Até onde a brisa me alcance.

Respire fundo e me ajude 
A não me esquecer de mim,
Se não, tropeço em mim mesma
Pelo passo em falso.
Peço desculpas, meu amor, pelo ato falho
Mas em tempos bêbados é difícil se manter sóbria.

Música me ajude 
A desabrochar os versos que desfiz.
Céu me ensine 
ler seus poemas e me guie
Para eu não me perder novamente 
Em mim
Até que as sutilezas me preencham
De poesia outra vez.

(GB - 19)

Arma

Olhos passivos à noite e ao dia,
Pés na terra ou no concreto da esquina.
Em cada beco estaciono o olhar,
Em cada pôr do sol 
Puxo o lençol 
Para cobrir a vergonha 
Ou a insônia,
Ou para sufocar o medo capital
Que pode ser cruel 
Pra quem não bebe o féu
Da superfície.

Metropolio insegurança
Diante de olhos, de face, do ferro frio
Dos que querem roubar nossa música, 
Nossa noite, nossa ingenuidade,
Nossa força de vontade.

Da insatisfação ao seu gesto 
Indigesto.
Aqueles que precisam de conforto
Ao se depararem sóbrios com a realidade
Monopolizam
Na capital caótica, colérica
Onde caminha por embalos
No pêndulo da indiferença 
O ser humano que desiste
Que o ser humano des existe,
O ser humano diz que existe.

(GB - 18)

Macro

Tudo em azul e branco,
Laranjado e cinza, 
Pintando-se ia.

Entre o agito 
Das asas de pássaros 
E de homens, 
Agitando-se ia. 

Entre corridas 
E saltos alegres, 
Suas nuvens, 
Mais rapidamente iam. 

Entre lençóis pendurados 
E folhas verdes, 
Com a brisa morna ia. 

Com a música 
No ouvido dos lábios, 
Dançando, os astrolábios iam. 

Com primeiros passos andados, 
Tranquilo ficou 
E o céu se acalmou 
E escuro se tornou 
E entre cansaços, descansou. 

E o tudo se mostrou 
O infinito espelho 
Guia macrocósmico de nós, 
Os microcósmicos da Terra.

(GB - 18)

AbSINTO


Dançando
Deixou no cigarro a marca de batom.
Canta como se estivesse em marte,
Gira como se fosse Yansã,
E sofre como se já fosse amanhã.

Como se já conhecesse a maçaneta,
Entra nas ideias de Platão,
Conversa com o Deus de Espinosa,
Abre os olhos como se comesse a fruta venenosa.

Num sonho Freudiano
Reza o alcorão,
Se encontra com Delfos que diz:
“Quando a música acabar, você vai voltar.
Catarse. Cate-se”.

Remando contra a corrente,
O tempo parece disparar
E voltando, se depara
Com o copo de absinto
Que devolve o olhar.

Na boate, 
O cigarro manchado de vermelho
Sangue descansa sobre a mesa. 
E o começo da manhã se funde
Entre laranjas e vermelhos,
Azuis e violetas.

Afogou a madrugada 
Em entorpecer,
Bebendo jazz,
Escutando o chão,
Deitada no que disse ser vinho.

(GB - 18)