quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Jasmin jaz-me

Quero morar em um lugar onde o dia amanheça com o cheiro do orvalho na lavanda, meio dia o sol cheire a chocolate, entardeça com cheiro de canela e anoiteça com cheiro de jasmim estrelado. Que o céu sempre esteja aberto com pêndulos estrelares para que eu os possa ligar, juntando os pontos. Toda noite terá damas da noite pelo jardim, brancas como a lua que brilha ouro e prata, magnetizando o profundo com flechas Artemísias. Que os vagalumes confundam os meus sentidos até eu não saber se são as estrelas, faíscas da fogueira crepitando no quintal ou os plânctons, sem saber se estou no mar, no céu ou na Terra. Que som de grilos e sapos acompanhem o som do piano e do acordeom tocando lá dentro. Que a grama, flores, árvores e trepadeiras tomem conta de tudo. Que se possa correr na chuva com um vestido branco esvoaçante pisando com os pés descalços nas poças de água e nas amoras que caíram do pé. Cheiro de chuva, como no fim do mundo. Que depois o céu exploda nas multicores do pôr-do-sol e do arco-íris. Que tenha água, muita água... mar, rio, cachoeira brilhando o dourado do sol e carregando, na corrente, lírios de Oxum... e musgos! Musgos e cogumelos crescendo em troncos de árvores, nas pedras e nos muros. Verde, muito verde. E marrom. Que a casa cheire a lareira, e cedro. Que o canto de pássaros dure até a hora da luz do sol desistir de abrir caminhos entre as árvores e descansar sobre as folhas secas, e que então, seja substituído pela voz de corvos, corujas e morcegos. Que tenham anões de jardim que conversem e brinquem com meus filhos, meus netos e que este seja o gosto de lar e nostalgia para o resto de suas vidas. Que o mundo acabe e eu dance e cante... dance e cante até cair na grama alta ouvindo o barulho da água do moinho, com o sol penetrando a pele. Até o escuro tomar conta dos meus olhos, da minha pele enrugada, do meu pulsar perdendo o ritmo e dos ossos já enfraquecidos. Que os animais se aproximem para ver o corpo etéreo que escapa, voando com a brisa quente. Que meu corpo retorne, entre, crave o chão até que já não se saiba o que é musgo e o que é unha, o que é cabelo branco e o que é dama da noite. E que a música continue e agora a alma dance.

(GB - 20)

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