segunda-feira, 15 de abril de 2019

Engulo

Por que tem que ter alguém
Pra me fazer alguém?
Por que a permissão?
Perfeição?
Me falta garganta: 
Arranquei minhas amígdalas fora,
E as cordas?
São de seda, qualquer deslise elas rompem
E calam.

Nasci de parto em pleno grito interrompido.
Mas escorro palavras,
Escorro mundo pelo corpo todo,
Estou o tempo inteiro a ponto de transbordar
Pelas beiradas,
Pelas frestas,
Pelos buracos.

Fui eu que criei esses portões, 
Tranquei com chaves
E as engulo.
Só às vezes escapa,
Mas daí engulo.

Me sabotei,
Abotoei meu peito prendendo tudo dentro,
Porque faltam ouvidos,
Faltam outros assumindo seus ruídos,
Assim como eu.
Mas só há línguas, 
Línguas 
E mais línguas,
Todas de estilete 
Que cortam meu verbete.

Então arranquei minha fala,
Me aprisionei em mim,
Faltou ouvido. 

(GB - 20)

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