Por que tem que ter alguém
Pra me fazer alguém?
Por que a permissão?
Perfeição?
Me falta garganta:
Arranquei minhas amígdalas fora,
E as cordas?
São de seda, qualquer deslise elas rompem
E calam.
Nasci de parto em pleno grito interrompido.
Mas escorro palavras,
Escorro mundo pelo corpo todo,
Estou o tempo inteiro a ponto de transbordar
Pelas beiradas,
Pelas frestas,
Pelos buracos.
Fui eu que criei esses portões,
Tranquei com chaves
E as engulo.
Só às vezes escapa,
Mas daí engulo.
Me sabotei,
Abotoei meu peito prendendo tudo dentro,
Porque faltam ouvidos,
Faltam outros assumindo seus ruídos,
Assim como eu.
Mas só há línguas,
Línguas
E mais línguas,
Todas de estilete
Que cortam meu verbete.
Então arranquei minha fala,
Me aprisionei em mim,
Faltou ouvido.
Me aprisionei em mim,
Faltou ouvido.
(GB - 20)
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