quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Instante Frio

No cair de uma tarde fria, caminho pela rua. Meus passos rápidos e constantes para evitar o atraso se misturando com os passos de outras pessoas. Carros, lojas, cachorros, casas, pessoas, vidas... e o frio, o vento, a sensação congelante. A música que ressoa em meu ouvido aumenta ainda mais essa sensação.

Era disso que eu sentia falta, que meu interior precisava. O frio é a única sensação com que posso contar, pois é a única prova de que ainda estou viva, mesmo sendo apenas a ausência do calor. E é na ausência dessa vida (que as pessoas dizem ser o calor) que me sinto viva.

Pessoas me olham e imagino o que pensam de mim, para onde vão, quem são e quais são suas tristezas. Talvez me olhem sem me ver, ocupadas e distraídas em seus pensamentos, seus olhos buscam apenas algo para apoiarem seus olhares, para pousarem seus olhares. Um apoio para que seus olhares não demonstrem o que suas cabeças pensam, o que sentem. As pessoas têm medo disso. Elas gostam deste frio? Temo que não...



Então acontece. Então algo muda. Sinto um cheiro que me faz lembrar de uma sensação, de um passado, uma angústia do passado que tinha aquele cheiro, choros e pessoas, o cheiro do choro daquela pessoa. Aquele instante suspenso que fez o compasso do tempo mudar e não foi um déjà vu, foi um outro tipo de instante suspenso, um outro tipo de relance.

A noite cai, as luzes da cidade brilham criando desenhos abstratos, riscos e faíscas em meus olhos úmidos à medida que pisco. As pessoas ainda não se acostumaram com o escuro ou com o frio (Ou com a ausência da luz e do calor).
Distraída e ocupada com pensamentos, meu olhar pousa em alguém, nos olhos desse alguém e aqueles olhos azuis me despertam, traz um outro instante suspenso. Traz à tona outros olhos azuis de um outro inverno que talvez eu tenha me esquecido...mesmo sendo inesquecíveis. Então minha mente se esvazia. 

Ainda de mente vazia, no silêncio da noite fria em meu quarto, com lágrimas vazias colando meu rosto na fronha. Fito o escuro e escuto atentamente ao silêncio que agora me conforta com essa desconfortável  sensação de vazio, mas sempre esperando o inesperado trazer um conteúdo para minha alma, e encher novamente essa vazia mente com sentimentos e pensamentos que, mesmo sendo perturbadoramente confusos, me confortam. 

Me confortam, porque me sinto em uma certa estabilidade com minhas confusões e paranóias instáveis. Não, ainda não aprendi a lidar com esse fluxo de pensamentos e sentimentos que deixam-me de mente e alma viva. Mas me acostumei e quando nos acostumamos com algo, nos sentimos em casa.

O vazio é pior. Uma mente silenciosa e escura é pior. Não sou acostumada com a estabilidade. A não-confusão me assusta.

(GB - 15)

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