segunda-feira, 16 de julho de 2018

Inverno

No inverno do meu inverso, 
Encontrei o inferno. 
Escrevi recados para o frio, 
Pendurei em galhos, 
Mas o inverno é hostil. 

Natureza morta. 

Quando se aproxima, 
Não sei como respirar, 
O ar é pesado e sai visível, 
Materializando-se. 

Uma réstia de vermelho no breu. 

Me embrenhei em fios e raizes, 
Espero o abraço que não chega, 
O aconchego que aqueça e não esmoreça. 
Apareça! 
Mas o inverno só esvazia.

O calor entorpece o incômodo, 
É fácil. 
Pisei descalça pra sentir, 
Se é pra sentir, agora vou sentir. 
Se não há fogo, 
O inverno que vai aquecer meu inferno. 

O frio é ruim, nele eu sinto, 
Me sinto. 
Vento gélido que preenche os poros, 
Levanta os pelos. 

Nesse inverno fiz o inverso, 
Fiquei descalça, quis sentir... 
Pé no chão frio. 
Mas o frio amorteceu. 
Amorteceu. 
A morte aqueceu.

(GB - 20)

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