No inverno do meu inverso,
Encontrei o inferno.
Escrevi recados para o frio,
Pendurei em galhos,
Mas o inverno é hostil.
Natureza morta.
Quando se aproxima,
Não sei como respirar,
O ar é pesado e sai visível,
Materializando-se.
Uma réstia de vermelho no breu.
Me embrenhei em fios e raizes,
Espero o abraço que não chega,
O aconchego que aqueça e não esmoreça.
Apareça!
Mas o inverno só esvazia.
O calor entorpece o incômodo,
É fácil.
Pisei descalça pra sentir,
Se é pra sentir, agora vou sentir.
Se não há fogo,
O inverno que vai aquecer meu inferno.
O frio é ruim, nele eu sinto,
Me sinto.
Vento gélido que preenche os poros,
Levanta os pelos.
Nesse inverno fiz o inverso,
Fiquei descalça, quis sentir...
Pé no chão frio.
Mas o frio amorteceu.
Amorteceu.
A morte aqueceu.
(GB - 20)
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