segunda-feira, 16 de julho de 2018

Laila

Como se esperasse algo, como se esperasse a lua minguante crescer até ficar cheia, estava ela, Laila, a dama da noite. Ela sabia muito bem que a lua minguante não encheria em uma noite, assim como ela sabia que a lua nova não aparece e nem precisava aparecer, pois Laila a via mesmo assim. Mas imaginou a lua se enchendo aos poucos enquanto a noite se aproximava cada vez mais, deixando o púrpura para se aproximar o negro que chegava sempre majestosamente. Ela riu consigo.

Então imaginou mais, imaginou que o negro da noite era como a maré do mar crescendo como um manto e vai se aproximando, em lentidão, trazendo a melancolia para uns, medo para outros e admiração em outros. Mas tem aqueles que não percebem a noite chegando, quando veem, já está lá e, assim, perdem o momento mais magnífico de um dia. 

A medida em que a noite se aproxima abrindo espaço pelo céu, até então em tons quentes, arrasta seu vestido negro cheio de diamantes que irão estrelar o céu trazendo consigo um regador de luz para encher a lua crescente, pois já estava na hora de mudar seu humor. 

Laila se lembrou de quando era pequena. Não sabia ao certo em que fase da infância passou a olhar o céu todas as noites. A lua sempre trouxe uma explosão de efeitos em seu corpo quando começa a aparecer tímida para, então, brilhar. A lua precisava de Laila e ela, da lua. 

Laila carregava a lua em si, durante o dia. Ela nasceu em noite de lua nova, a parteira pediu para sua mãe se concentrar em algo e respirar fundo durante o parto. A mãe quis olhar a lua, correu os olhos pelo céu e percebeu que ela não estava lá, então a menina nasceu, a lua que sua mãe procurava. Já chegou ao mundo exaltando perfume de flores. "Essa menina tem cheiro de jarmin estrelado" disse a parteira, "não", disse a mãe, "tem cheiro de dama-da-noite". Assim seu nome foi escolhido: "escura como a noite", "beleza da noite".

Para verdadeiramente contemplar a lua, Laila sabia que é preciso algo a mais, é preciso desprender-se de si, esquecer-se, esvaziar-se e pensar infinitamente como o céu. Era preciso ver com olhos de lua. A lua a olhava e ela olhava lua e assim se ligava as duas Lailas, as duas belezas da noite. 

(GB - 17)

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