segunda-feira, 27 de abril de 2020

Caranguejo

Caranguejo
Me pinça e puxa pela calda que criei,
Me leva para as profundezas.
Caranguejo me leva
Dentro do meu barco de guerra
Ao meu deserto particular,
Pântano escuro onde a lua mora parada
Espelhando tudo de mim.
Eu nua na margem, 
Nua das cascas
Nua das penas,
Nua da carcaça,
Arranquei tudo no desfiladeiro.
Um caranguejo emergiu das profundezas,
Me levou pra nadar,
Me pediu para eu dançar com as dores.
Disse que sou rio de água salgada,
Que desmancho pelos olhos embotados,
Enluarados...
É minha forma de transbordar,
É minha medicina profunda,
Às vezes, profana.
É a transparência materializada,
Que se lança e jorra pra me mostrar tudo o que menti e omiti pra mim mesma.
Coração pulou feito sapo no pântano,
Ele pula e não para de coaxar,
Pula e não para de coaxar.
Eu tento silenciá-lo mas é mais forte que eu,
Ele me chama pra entrar.
A água é turva,
Reflete tudo
E eu só vejo a mim mesma
E um monte de casas que construi ao redor pra esconder o rio.
Quanto mais eu entro, mais elas desmoronam,
Vão se tornando escombros
Enquanto algumas se reconstroem mais fortes.
O sapo pula, não para,
O nome dele é paixão,
O nome dele é amores,
O nome dele é família,
O nome dele é infância,
O nome dele é ilusão.
O caranguejo me arrasta e eu não tenho escolha,
Só me resta mergulhar.
Profundo.
Até eu me misturar com essa água
E ela tomar conta de mim
Até eu virar caranguejo. 

(GB - 21)

Nenhum comentário:

Postar um comentário