segunda-feira, 27 de abril de 2020

Casulo


Olhos de câmera fotográfica 
Busca sedenta por imagens. 
Capta cada canto desconhecido da casa 
Tenta se surpreender com algum novo 
Pra lavar de novidade a janela da alma. 
O corpo ocupa o espaço como se ocupasse a si mesmo, 
Meu corpo se confunde com a casa, 
Já virou um móvel, 
Parte dela. 
As narinas anseiam cheiros diferentes, 
Temperos novos
Flores
Rua
Chuva
O cheiro da noite. 
Enfio a cabeça pra fora da janela 
Respirando como quem sai do útero. 
Parece que tudo vibra mais do que antes. 
A luz do pôr do sol
As cores
O sol penetrando os poros da pele
O olho no olho que já virou raridade
O toque... 
Investigo o corpo como investigo a casa, 
Tento mapear meus ossos 
Sinto minha pele 
Como quando me deito em um canto da casa 
Nunca habitado antes procurando o sol. 
Descubro posições,
Maneiras de ocupar o espaço, 
De ocupar a mim mesma. 
De habitar meu corpo 
Enquanto sinto o habitat como lar. 
Estar em mim tanto quanto estou na sala de estar.
As cores de fora são mais nítidas,
Os cheiros de fora são mais fortes.
Tento habitar meu corpo na carne
E habito meu hábito na casa,
Habitando os sentidos apenas no estar
Pra cabeça pairar por onde ela quiser.

(GB - 21)

Nenhum comentário:

Postar um comentário