quarta-feira, 29 de abril de 2020

Fim-Fim

Fim-fim
Fim-fim
Anunciou o terminar do dia.
E o pôr-se de si
Fim teu ou de mim?
Passarinho que não se pode caçar.
Encarnação caiçara do Saci,
Caos que anuncia o fim, 
Foi enviando por Oyá, eu o vi
Ou melhor, ouvi
Já não sei mais
Se sobrevoando o infinito de Yemanjá
Quando veio cantar pra mim
Que há coisas pra se deixar no mar
Que o sal vai transmutar
Mas também há cantos que precisam avoar.
O que quer dizer com tanto fim?
Limita no não limite do seu sobrevoar.
Não acredito nas sereias
Mas o ouvi cantar pra mata
Seu canto e encanto, a retrata
E me confundiu as beiras
Me raptou inteira
Até não ter mais pra onde ir
Hipnotizada, cheguei ao fim
Rodeia e rodeia
Já não sei mas o que é periferia 
Margem de mim
Me misturei com teu canto
Me misturei com o voar
Mata ou mar?
Já não sei mais onde me leva.
Fim-fim
É ele dizendo que há coisas pra ficar no mar
Sair de si
Até o corpo não ter mais fim.
Me contou que fim é caminho
Fim é potência
Quando é chegado
Tudo o que o que podia ter sido foi feito
Abundância.
A partir do fim tudo pode surgir
Fim é não é limite
É o entre do que se foi e do vir a seguir,
Seguindo vôos e sacis
Até o começo de si.

(GB - 20)

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