quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Esfinge

 

Um pouco pro santo,
Um pouco pra crença,
Um trago nostálgico.
Bênção da cabeça aos pés.
Escorro sangue no couro 
Já não mais cabeludo,
Apenas em pensamentos,
Sangue que pari
Junto com ervas que colhi
Pra alimentar as cascavéis,
Uma comendo a outra,
Comendo os próprio rabos entrelaçadas.
Sangue na garganta 
Pra molhar a palavra,
Não abortar a fala
E recriar.
Sangue nos seios para pertencê-los a mim,
Para alimentar à mim e ninguém mais,
Enquanto sou filha desse corpo.
Água quente nos pés
Pra tirar o calor do pensar
E levar pro caminhar.
Penetração de vapor
Entrando pelo meu portal,
Apagando o fogo do ventre
Que limpando, escorre
Igual a lágrima que estava seca.
E disso eu renasço
Olhando pros meus monstros,
Me levando ao meu deserto,
Me deixando nua, também de pelos.
Espaço em branco,
Com o sol queimando a face.
Nos pés a água é salgada,
Na vul(va)gar a água é azeda,
Na cabeça, seios e garganta,
E na cabeça dos seios da garganta, 
O cheiro é de flor e ferrugem.
Me transformando camaleônica 
Num rapto profano
De mim mesma,
Viro minha esfinge
Readaptando-me à mim.

(GB - 21)

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