quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Dor

O tempo é o palco do encontro 
entre você e você mesma.
A sabedoria mansa e ansiosa do tempo
é vento que sai arrancando ferida 
e dói cicatrizar.
O silencio é a voz do cumprimento 
e do comprimento
entre você e tu mesma.
O silencio está a registro do tempo
que está aqui
não lá
nem no outro
nem na tela
aqui
a pesar
apesar
de ser denso e pesado
é banho de água fria
lento
e que dura
muito
muito
e dura
e cada milésimo de segundo é sentido
na mesma intensidade
a frieza que assusta
é susto constante
rigidez
quanto mais rígido mais se esgarça
a duração flexibiliza
trazendo clareza
exatidão.
Não tem nada dentro
não tem nada fora
sentir o vazio que assombra é dor
dói porque não há
as incertezas doem
e doem mesmo
por mostrar que não há controle
e não há nem sequer medida de comparação
para o quanto de descontrole há
em não controlar o tempo e o vazio
porque a dor em si tá em saber
que de nada tive ou tenho controle
assusta
é como parto
o nascer
sendo o maior de todos os traumas
imagina nascer o tempo todo?
o peso da fragmentação e da elasticidade que isso tem
o tempo é uma grande vagina
a de um deus que é homem
soberano
pesado
frio
e quente
fogo e brasa
que gela
respeito ou temor?
não queria precisar temer
pra aprender a respeitar
mas no fim das contas é uma escolha temer
me sentir pequena diante da realidade que me assombra
SABER BAIXAR A CABEÇA AO TEMPO
aprender a baixar a cabeça ao tempo
aprender a baixar a caber ao tempo
experimentar a dor do descontrole
dor de estar parindo e nascendo ao mesmo tempo
a cada segundo
o banho de água fria de novo
ai!
DÓI
abrir os olhos dói
luz grande e forte que te cega
é dessa forma que encaro o sol
e tiro as roupas
e tiro as vestes
e tiro
dói
ver o sol
e queimar o corpo nu
viver dói.

(GB - 23)


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