quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

Em Or/ação

Quero me dar de presente
Um doar-me inteira pro presente
Uma foto com os olhos
uma captura em suspensão.

Assim, algumas palavras espiam a mente
jogando no verbo o que está apodrecido.
O ar, enchendo o corpo, o esvazia
de tudo o que não for
Tudo o que é: eu e hoje e o vento
O resto não é

Um sussurro claro do tempo
Que só diz coisas de agora
Eu é que teimo em ouvir passado
Ou ver projeção
Assim aprendo a dirigir a expectativa
Que é veículo que move
Ou atropela quem o próprio conduz

Tempo me ensine a ser pó
Pó estelar
Tempo não quero ter dó
Dó de ficar
Em mim
Tempo eu tô aqui
Como poderia não estar
Se você me embala?

Tempo não quero ansiar
Nem desesperar
Quando não te olho em mim
Sinto que não tenho lar
Tu me trouxe aqui
Passageira de mim
De tempo em tempo
Fico a te admirar
Haja tempo pro tempo abraçar
Tu que me deu de presente
O presente estar
Não quero mais apressar

O que me ajudou a criar
Quero te entregar
Assim estou a me recriar
A cada hora que a vida me revirar
Instantes, fragmentos, fagulhas
Tua calma divina e não linear
Me ensina a só ser
Ao compasso de não precisar
Ser nada

(GB - 23)

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